Carta aberta ao Governo da Bahia
Ao excelentíssimo governador do Estado da Bahia,
Sr. Rui Costa
Prezado Governador,
A Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist) representa sindicatos e associações em todos os estados do Brasil e no Distrito Federal, que reúnem cerca de 2.500 empresas regulares, responsáveis pela geração aproximadamente de 600 mil empregos diretos, sendo um dos principais setores econômicos do País.
Diante do exposto, nos sentimos na obrigação de nos manifestarmos, respeitosamente, em relação ao vídeo produzido e postado pelo Governo da Bahia, no dia 16 de novembro, no canal oficial do estado no Youtube, com o título “Combate ao racismo: no banco”. A peça publicitária incentiva o combate ao racismo com outro tipo de preconceito.
Em primeiro lugar, é preciso destacar que a Fenavist, os sindicatos, as associações e as empresas por ela representada apoiam todo tipo de ação e medida no sentido do combate não apenas ao racismo, mas a qualquer tipo de discriminação, seja ela de cor, raça, gênero, sexualidade e outras. No entanto, não pode admitir que o próprio segmento de segurança privada seja alvo de preconceito.
No vídeo em questão, um ator retrata de forma caricata um vigilante, dando a entender que os profissionais que exercem a atividade são racistas. Isso fica evidente no texto reproduzido pelo personagem: “a gente desconfia a abordagem tem que ser minuciosa. Você entende? Começou a dizer que eu era racista. Ah meu irmão, eu estava sendo realista. Eu fui muito bem treinado para reconhecer marginal. Quando eu estou ali na linha de frente, vagabundo nenhum entra no banco não. Ali é lugar de gente bacana. Está pensando que me engana? Para cima de mim!”
O texto claramente acusa o segmento inteiro de ser racista, sem apresentar dados ou informações concretas que validem a premissa repassada ao público. O que é pior, ao generalizar toda uma atividade, pratica preconceito contra os profissionais que todos os dias deixam os lares para contribuir com a segurança de toda a população. Retrata os mais de 500 mil vigilantes espalhados em todo país como racistas, preconceituosos, despreparados, o que é um equívoco gigantesco. Contribui para um discurso errôneo, sem fundamento, que é construído na falta de informação do senso comum.
Existe uma generalização incorreta provocada por falta de conhecimento, inclusive de formadores de opinião e da própria imprensa em alguns casos, que generaliza as nomenclaturas como sinônimos. Isso contribui para que a população construa uma visão equivocada sobre a segurança privada. Não é porque uma pessoa utiliza um colete, uma camiseta ou um crachá que ela é um vigilante, um profissional regular da segurança privada.
Para se ter uma ideia, só para citar os casos mais recentes envolvendo supermercados em São Paulo, Rio Grande do Sul e na Bahia, que acabaram em tragédias, constrangimentos e desrespeito aos direitos humanos, em nenhum deles os ditos “seguranças” eram vigilantes. Em todos eles havia a presença de segurança clandestina, ou empresa sem autorização da Polícia Federal, ou ainda desvio de função.
É preciso lembrar que os diálogos reproduzidos no vídeo não condizem com as práticas adotadas por profissionais da segurança privada, que precisam ser aprovados em um de curso de formação autorizado e fiscalizado pela Polícia Federal. Durante as aulas, os vigilantes, que passam por reciclagem a cada dois anos, recebem orientações para agirem de forma preventiva e sempre com o objetivo de proteger a vida da população. Na grade curricular, inclusive, existe a disciplina Legislação Aplicada e Direitos Humanos.
Além disso, há mais de um ano, a Fenavist e a Associação Brasileira de Cursos de Formação e Aperfeiçoamento de Vigilantes (ABCFAV) trabalham em parceria com a Universidade Zumbi dos Palmares e o Movimento AR. O objetivo é reforçar a capacitação dos mais de 500 mil vigilantes que atuam nas empresas formais em questões raciais e discriminatórias, bem como aprofundar as orientações sobre técnicas de abordagem, que já são ensinadas de forma exemplar nos cursos de formação.
Assim, a Fenavist e a ABCFAV, como o apoio da Associação Brasileira de Empresas de Segurança e Vigilância (ABREVIS), Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (ABSEG), Associação Brasileira das Empresas de Transporte de Valores (ABTV) e os sindicatos estaduais, têm atuado para desenvolver todas as ações acordadas e relacionadas às metas estabelecidas no termo assinado com o Movimento AR.
Inclusive, no último dia 25 de novembro, a Fenavist e a ABCFAV lançaram o Selo “Segurança sem Preconceito” e a cartilha “Segurança sem Preconceito”.
O selo de qualidade “Segurança sem Preconceito” nasce do compromisso do segmento de segurança privada de atuar como ator transformador e colaborar para uma mudança estrutural da sociedade brasileira. O objetivo é incentivar entidades de classe e empresas a desenvolverem ações, juntamente com seus diretores e funcionários, para disseminar, discutir e descaracterizar o preconceito, infelizmente, ainda enraizado em muitas pessoas, e que possa promover os direitos humanos de todos, inclusive das minorias.
A Cartilha “Segurança sem Preconceito” é uma dessas ações. Ela é uma das iniciativas do setor de Segurança Privada e sua publicação reafirma o compromisso de combater qualquer ato ou ação dos profissionais do segmento de segurança privada que possam ser preconceituosos ou discriminatórios em função de cor, etnia, religião, orientação sexual, de gênero, nacionalidade, condições físicas ou grupo social.
Os pontos citados apenas reforçam de forma cristalina o equívoco do vídeo publicado pelo Governo da Bahia. Situação que poderia ter sido evitada caso os responsáveis pela ideia e pela publicação tivessem procurado fontes confiáveis e o segmento de segurança privada para verificar as informações. Replicar senso comum, sem a busca pelos fatos verdadeiros, é um dos fatores que dificultam a luta contra o preconceito no Brasil.
Diante do exposto, e sabedores de que todos nós estamos em constante evolução, acreditamos que o Governo da Bahia possa repensar a publicação do vídeo que, em vez de combater o racismo, acaba propagando o preconceito ao segmento de segurança privada.
Além disso, gostaríamos de propor uma parceira para uma ação que de fato contribuirá para o combate de qualquer tipo de discriminação. Como a cartilha “Segurança sem Preconceito” é totalmente gratuita e trata de conceitos e ideias que precisam ser difundidas não só para a atividade de segurança, mas a todos os brasileiros, convidamos a administração da Bahia a disponibilizar em todos os seus canais de comunicação a versão online da publicação.
Caso exista interesse na distribuição do material físico, também colocamos à disposição, de forma totalmente gratuita, o arquivo apropriado para que seja impresso pelo Governo Baiano.
Ressaltamos ainda que estamos inteiramente à disposição para atuar ao lado do povo baiano no combate a qualquer forma de preconceito, assim como o Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado da Bahia (Sindesp-BA), representante da Fenavist no estado.
Atenciosamente,
Jeferson Furlan Nazário
Presidente da Fenavist
Brasília, 4 de dezembro, 2021.
Clique no link abaixo e acesse a Cartilha “Segurança sem Preconceito”
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